terça-feira, 17 de junho de 2014

Estado impede aulas sobre mudança climática

Por MOTOKO RICH
CHEYENNE, Wyoming - Na sede do Wyoming Liberty Group, Susan Gore, a fundadora desse grupo conservador, dizia que as novas diretrizes científicas nacionais para escolas americanas eram uma forma de "coerção". "Não acho que o governo deveria ter qualquer relação com a educação".
Gore fez essa declaração semanas depois que Wyoming, onde o carvão e o petróleo são a base da economia, se tornou o primeiro Estado a rejeitar esses padrões -que incluem aulas sobre o impacto humano no aquecimento global. A decisão aconteceu apesar de um grupo de educadores de ciência do Estado endossar as novas diretrizes.
Com o aumento das evidências sobre o derretimento das calotas polares e sobre o aquecimento global, as escolas passaram a ensinar seus alunos sobre a mudança climática. As novas diretrizes educacionais, conhecidas como Next Generation Science Standards (padrões científicos da próxima geração, em tradução livre), até agora foram adotadas por 11 Estados e pelo distrito de Columbia.
No entanto, muitos veem a afirmação de que a atividade humana vem impactando o clima não como um consenso científico, mas como um dogma liberal. Assim, querem que seus filhos aprendam isso como uma teoria, não um fato. Além disso, segundo alguns legisladores de Wyoming, esse tipo de ensinamento é uma ameaça ao motor econômico do Estado.
As diretrizes "abordam o aquecimento global como uma ciência estabelecida", afirmou o deputado estadual republicano Matt Teeters ao jornal "The Casper Star-Tribune". Ele disse que esses ensinamentos podem destruir a economia de Wyoming, o maior exportador de energia do país. Ron Micheli, do Conselho Estadual de Educação, classificou as diretrizes como "muito preconceituosas e contra o desenvolvimento dos combustíveis fósseis".
Os novos padrões foram desenvolvidos por 26 governos de Estado e diversos grupos de cientistas e professores. Eles fornecem indicações sobre o que os estudantes devem aprender em cada série, do jardim de infância ao secundário.
Em Wyoming, após 18 meses de estudo e comparação com padrões de outros Estados, um comitê de educadores de ciência recomendou unanimemente que o Conselho Estadual de Educação adotasse as orientações nacionais. Em março, no final da sessão legislativa do Estado, parlamentares aprovaram uma nota de rodapé para o Orçamento bienal proibindo qualquer gasto público para adotar os novos padrões.
Em abril, o Conselho ordenou que o comitê de educadores criasse novas diretrizes.
Micheli, presidente do Conselho e pecuarista, disse estar preocupado com qualquer ensinamento sobre a mudança climática que não considere "o custo-benefício em termos dos esforços e gastos de se colocar o aquecimento global sob controle".
Em Wyoming e em outros lugares, as críticas sobre as diretrizes também estão sendo impulsionadas por uma reação geral contra padrões acadêmicos nacionais. Por todo o país, opositores de direita e esquerda atacaram o Common Core, adotado por 45 Estados e pelo distrito de Columbia, que estabelece padrões sobre o que os alunos deveriam saber e ser capazes de fazer em leitura e matemática.
Com eleições para governador neste ano, opor-se aos padrões "está se tornando um teste político decisivo", disse Richard Barrans, professor da Universidade de Wyoming.
Mesmo educadores que se identificam como conservadores disseram não ver problema nas novas diretrizes. Segundo Walter Hushbeck, professor de ciência em Cheyenne que serviu no comitê de análise, os críticos estão praticando "bullying".
Muitos estão indignados com o que aconteceu. "Reconhecemos e apreciamos a indústria que sustenta este Estado, da extração de petróleo e gás e da mineração de carvão. É fato que nossas escolas são bem financiadas por causa disso", disse Marguerite Herman, membro do Wyoming for Science Education, grupo de pais e educadores. "No entanto", completou, "isso não muda um fato científico". NYT, 17.06.2014

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